sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Existiria diferença entre a loucura e a criatividade?

 Frida Kahlo: guiada pela loucura ou pela inspiração?


Fundamentos da Psicologia Analítica - Primeira Conferência de Tavistock - Pg. 55
Nas conferências de Tavistock Jung apresentou pela primeira vez as bases da Psicologia Analítica. Durante o evento vários pesquisadores e médicos fizeram lhe perguntas sobre seu trabalho. O Dr. L.J. Bendit quis saber de que forma Jung entendia a diferença entre a loucura (ou "invasão patológica", termo utilizado na linguagem acadêmica da época) e a criatividade artística. A seguir veja sua resposta:
"Entre uma inspiração artística e uma invasão não há absolutamente diferença alguma; são a mesma coisa, por isso, eu evito em relação a ambas a palavra “patológica”. Eu nunca diria que a inspiração artística é patológica, e por esta razão faço a mesma exceção para as invasões pois considero a inspiração como um fato perfeitamente normal. Nada há nada de mal, nada de extraordinário há nele.
É uma grande sorte que a inspiração ocasionalmente se manifeste nos seres humanos; ela se dá muito raramente, mas acontece. Mas é bem provável que os acontecimentos patológicos se desenrolem pelo mesmo processo; portanto temos de traçar uma linha divisória em algum ponto. Se os senhores fossem todos alienistas (médico especialista em doenças mentais) e eu lhes apresentasse um caso, provavelmente o diagnóstico que os senhores me dariam do paciente seria a loucura. Eu não concordaria, pois enquanto esse homem puder se explicar e eu sentir que podemos manter um contato, afirmarei que ele não está louco. Estar louco é uma concepção extremamente relativa…  Estar louco é um conceito social.

Usamos restrições e convenções sociais a fim de reconhecermos desequilíbrios mentais. Pode se dizer que um homem é diferente, comportar se de maneira fora do comum, ter ideias engraçadas e se por acaso ele vivesse numa cidadezinha da França ou da Suíça, diriam: “É um fulano original, um dos habitantes mais originais desse lugar.” Mas se trouxermos o tal homem para a rua Harley, ele será considerado doido varrido. Se determinado indivíduo é pintor, todo mundo tende a considerá lo um homem cheio de originalidade, mas coloque se o mesmo homem como caixa de um banco e as coisas começarão a acontecer… Dirão que o homem é um louco consumado. Essas opiniões não passam, entretanto, de considerações sociais. Vejamos o exemplo dos hospícios: não é o aumento da insanidade que faz nossos asilos ficarem apinhados; é o fato de não podermos mais suportar as pessoas anormais, isto sim. Então parece haver muito mais loucos do que antes."

Trecho da obra Fundamentos da Psicologia Analítica. C.C. Jung - Ed. Vozes

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