O Papa morreu. E o tempo parou. O mundo se comove e corre para frente da televisão para acompanhar cada passo do novo conclave. Nos dias que se seguiram 108 cardeais se reuniram para eleger aquele que seria o sucessor do trono da Santa Igreja, o Salvador encarnado na terra. O sumo sacerdote tem o dever de acolher e aconselhar. É aquele que media e salva os fiéis da religião mais populosa do planeta. Além disso oferece consolo a qualquer pessoa ou nação católica ou não em tempos de guerras ou catástrofes naturais. Os dias se passam e finalmente os cardeais chegam a um consenso.
Da varanda de um dos santos palácios, de frente para a Praça São Pedro se ouve a frase que todos esperavam ansiosamente: Habemus Papam! Atrás das cortinas vermelhas o novo sucessor enrubesce, paralisa e sai em fuga, desesperado, gritando aos quatro ventos que não se sente preparado para o cargo. Os cardeais se desesperam e os fiéis não sabem o que se passa. Em meio às pressões da mídia o Vaticano avisa que o santo homem está em oração e em breve se apresentará ao público. Os dias vão passando e alguém entra pela porta dos fundos. Um psicanalista é chamado. Sua função é ajudar a resgatar o novo papa eleito de uma crise de identidade revelada por meio de constantes ataques de pânico.
O santo homem não era infalível. Mais que humano, ele treme diante de um dos cargos mais importantes do mundo e a responsabilidade de sua função. Esta é a história do filme Habemus Papam, de 2011, contada pelo diretor Nanni Moretti. Como ninguém, o diretor italiano percebeu a fragilidade da igreja e de seus representantes, um ano antes da renúncia de Bento XVI. De fato ser cineasta é mais fácil que ser papa. E fazer um filme é mais rápido que articular uma saída estratégica e coerente. Sem entrar no mérito religioso ou nas políticas da Santa Igreja importante é perceber a perspicácia de Moretti ao mostrar a fragilidade e a insegurança de um homem próximo dos 70 anos e de tamanho prestígio, tremendo frente a sua missão. Em mês escorpiano o sacerdócio, a missão religiosa, íntima e transformadora, a dedicação do psicólogo ou do terapeuta é um tema muito presente.
Afinal, quem não recorre ou nunca recorreu ao auxílio dessa figura do "homem mais velho", mais vivido, mais sabido e por isso capaz de aconselhar. Mas, a idade avantajada, as experiências da vida, os diplomas, as viagens e as aventuras não são necessariamente atestados de sabedoria ou superioridade em qualquer nível, inclusive espiritual. Podemos nos encontrar sem respostas em qualquer momento da vida. No filme, a alma do novo papa eleito é a de uma criança que se identifica muito mais com tudo aquilo que queria ter feito na vida e não teve condições de fazer. O novo papa queria ser ator. Sua verdadeira vocação estava nos palcos. Em céu de quadraturas e oposições estamos de fato sem norte e trêmulos diante das obrigações e responsabilidades que Plutão em Capricórnio e Saturno em Escorpião têm nos exigido. Dos mais jovens aos mais velhos. Do estudante ao papa. Hoje, dia de Lua em Gêmeos, poderá ser um daqueles dias em que teremos uma vontade imensa de encontrar alguém com quem conversar, alguém que nos diga como será o futuro, para onde iremos, o que acontecerá. Seria maravilhoso se alguém nos desse uma pista, uma chance, que nos apontasse a luz no fim do túnel. Decepcionante seria se não encontrássemos esse conforto. Mas em tempos desafiadores isso pode acontecer, com qualquer um de nós. Sem constrangimento ou irresponsabilidade o filme mostra que tanto na ficção quanto na vida real se até o papa treme todos podemos vacilar.
Sim, até ele teve ataques de pânico diante da brutal responsabilidade de se tornar Papa |
Nanni Moretti é o psicanalista. As sessões acontecem na frente dos 108 cardeais, no Vaticano |
Dizem que Papa João Paulo II era um profundo conhecedor da astrologia |
Aline Maccari
Trailer do filme Habemus Papam, do diretor Nanni Moretti, 2011.