terça-feira, 6 de julho de 2021

Frida e a loucura

Diário da Astróloga: 06.07.21 | No céu destes dias de Junho e Julho há uma forte quadratura envolvendo planetas em Aquário (Saturno), Leão (Marte e Vênus) e em Touro (Urano). Todos são tidos como signos de grande criatividade. Mas em tensão, esse duelo de titãs nos desafia e também em sociedade e aos conceitos do que seja adequado ou inadequado; certo ou errado; vocação, talento ou loucura. Como escrevi na semana passada, é tempo de "SAIR DO ARMÁRIO" e isso não diz respeito apenas às nossas questões sexuais, mas criativas acima de tudo. Portanto "quem sou eu quando me exponho?", "o que quero contar ao mundo?" são perguntas para este momento. 
E quem pode nos ajudar a responder a esses questionamentos é a aniversariante do dia. Se viva estivesse, a canceriana Frida Kahlo faria anos neste 06 de Julho. Uma das questões mais interessantes na obra de Frida é que tudo o que ela pintava, inclusive as cenas mais psicodélicas, eram cenas de sua vida real e de todos os dramas que enfrentava. Frida é um exemplo de mulher por vários motivos. Tornou-se uma das artistas mais populares e reproduzidas do mundo. Talvez nem ela quisesse isso. Provavelmente não! Mas fato é que isso não se deu. Suas imagens ficaram tão gravadas no imaginário popular que foi impossível não se inspirar nela. E talvez todos quisessem um "cadinho" de Frida perto de si para sentirem o fluir autêntico de Frida em si. Ela dizia: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade.

Neste misto de vida e arte, realidade e irrealidade, entre surtos de lucidez e loucura, também tão visíveis nestes tempos pandêmicos, há uma passagem incrível de Carl Jung que pode nos ajudar a elucidar esta questão. Nas conferências de Tavistock, Jung apresentou pela primeira vez as bases da Psicologia Analítica. Durante o evento vários pesquisadores e médicos fizeram lhe perguntas sobre seu trabalho. Dr. L.J. Bendit quis saber de que forma Jung entendia a diferença entre a loucura (ou "invasão patológica", termo utilizado na linguagem acadêmica da época) e a criatividade artística. E então ele respondeu: 

"Entre uma inspiração artística e uma invasão não há absolutamente diferença alguma; são a mesma coisa, por isso, eu evito em relação a ambas a palavra “patológica”. Eu nunca diria que a inspiração artística é patológica, e por esta razão faço a mesma exceção para as invasões pois considero a inspiração como um fato perfeitamente normal. Nada há nada de mal, nada de extraordinário há nele.
É uma grande sorte que a inspiração ocasionalmente se manifeste nos seres humanos; ela se dá muito raramente, mas acontece. Mas é bem provável que os acontecimentos patológicos se desenrolem pelo mesmo processo; portanto temos de traçar uma linha divisória em algum ponto. Se os senhores fossem todos alienistas (médico especialista em doenças mentais) e eu lhes apresentasse um caso, provavelmente o diagnóstico que os senhores me dariam do paciente seria a loucura. Eu não concordaria, pois enquanto esse homem puder se explicar e eu sentir que podemos manter um contato, afirmarei que ele não está louco. Estar louco é uma concepção extremamente relativa…  Estar louco é um conceito social. Usamos restrições e convenções sociais a fim de reconhecermos desequilíbrios mentais. Pode-se dizer que um homem é diferente, comportar se de maneira fora do comum, ter ideias engraçadas e se por acaso ele vivesse numa cidadezinha da França ou da Suíça, diriam: “É um fulano original, um dos habitantes mais originais desse lugar.” Mas se trouxermos o tal homem para a rua Harley, ele será considerado doido varrido. Se determinado indivíduo é pintor, todo mundo tende a considera-lo um homem cheio de originalidade, mas coloque se o mesmo homem como caixa de um banco e as coisas começarão a acontecer… Dirão que o homem é um louco consumado. Essas opiniões não passam, entretanto, de considerações sociais. Vejamos o exemplo dos hospícios: não é o aumento da insanidade que faz nossos asilos ficarem apinhados; é o fato de não podermos mais suportar as pessoas anormais, isto sim. Então parece haver muito mais loucos do que antes." 

Que Frida e Jung nos ajudem a compreender hoje, nestes tempos, nosso lugar no mundo e em nossas próprias vidas. 

Aline Maccari Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana

CRÉDITOS: Foto da artista mexicana e aniversariante do dia, Frida Kahlo.*Referência: Trecho de "Fundamentos da Psicologia Analítica" - C.C. Jung - Ed. Vozes




Diário da Astróloga 06.07.21: Neste dia em que celebramos o aniversário da grande artista Frida Kahlo, converso sobre loucura versus criatividade. O tema surge por causa do céu do momento, com os criativos Touro, Leão e Aquário em tensão. Com a ajuda de Carl Jung vamos compreendendo a questão... Aline Maccari Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana
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CRÉDITOS: A Astróloga
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