No céu desta sexta-feira o Sol passeia pelos últimos graus de Capricórnio e a Lua atravessa o signo de Leão. Entre razão e emoção um antagonismo vivido por nós, seres mundanos e santos de toda a história. De um lado os esforços que devemos fazer, a concentração, o foco, o trabalho duro, a determinação, a disciplina e as restrições em nome de uma vida correta, moral, verdadeiramente consistente e significativa. Do outro, a luxúria, os prazeres, os desejos e quereres, e a expressão do sujeito como centro do universo. Capricónio versus Leão.
Na história a disputa entre o ascetismo e o hedonismo são temas da filosofia, das artes e das religiões. No dia de hoje, 17 de janeiro, é celebrada a data de Santo Antão, também conhecido como Santo Antão do Egito, do Deserto, o Grande, o Eremita ou o Pai dos Monges. A data é celebrada de forma mais vigorosa entre os católicos coptas egípcios, afinal era um santo "de casa". Seu nome original era Antônio, mas para não ser confundido com Antonio de Pádua ganhou um "apelido" carinhoso. Reza a lenda que ele teria vivido 105 anos, certamente uma metáfora sobre o tempo, aspecto fundamental que rege a vida do santo capricorniano e de todos os capricornianos sempre preocupados com o tempo das coisas.
Tal qual o bode (o animal que representa a saga deste signo) ele reconheceu sua função bem cedo e decidiu tornar-se eremita. Fervoroso, Santo Antão teria compreendido as lições do evangelho e entregue todos os seus pertences aos humildes por volta dos 20 ou 21 anos, durante a segunda quadratura natural de Saturno, planeta regente de Capricórnio, e que coloca em cheque a vida de todos nós por volta desta idade. A pergunta "afinal o que farei da minha vida" é feita por todos nós próximo desta idade e na vida do santo não foi diferente. O primeiro Padre do Deserto viveu entre o segundo e o terceiro século depois de Cristo, mas suas histórias de tentações no deserto egípcio trespassaram quase dois mil anos, tornando-se extremamente popular, entre o imaginário mitológico medieval e posteriormente entre os renascentista.
Como capricorniano focado ele recusou os prazeres mundanos para atingir sua evolução espiritual. Uma atitude simbólica que ronda o íntimo dos capricornianos de tendência mais espiritualista, já que muitos tomam o mesmo caminho, entre católicos, budistas, evangélicos ou seguidores de qualquer outra religião ou linha filosófica. O alto da montanha ou no caso do santo, o deserto, entre as areias do tempo, foi o cenário para seu encontro consigo e com a divindade. Lá ele foi tentado por demônios de toda a natureza, entre hienas assustadoras, mulheres atraentes, animais pavorosos e monstros inacreditáveis; enfrentou "suas" tentações e saiu vitorioso graças a sua determinação. Uma passagem interessante de São Antão pelo deserto é seu encontro com outro eremita, São Paulo de Tebas que não falava com ninguém há algumas décadas.
Pieter Huys (1519-1584) faz o retrato de um Santo Antão analítico, tranquilo e sereno, medindo os pesos para saber o que eram ilusões e quais eram os verdadeiros problemas de seu tempo. |
Nesse dia os dois foram alimentados por um corvo que trazia do céu um pedaço de pão e em seguida Antão assistiu à morte de Paulo, enterrando-o com a ajuda de leões, ou de Leão (as solares qualidades da lealdade e da generosidade). A luta pessoal e o exemplo espiritual do combate à luxúria e os fantasmas pessoais se tornou não só a história dele, mas de tantas pessoas que vivem a mesma saga interior. E na mente e no coração dos artistas que na literatura astrológica são regidos pelo signo de Leão, Antão se tornou obra prima nas mãos de mestres como Heronymus Bosch, Pieter Brueghel, Salvador Dali, Max Ernst, Matthias Grünewald, Diego Velázquez e Gustave Flaubert.
Nas pinturas o santo era retratado ora como sujeito vencedor, ora como vencido, representando um dilema que atravessa séculos: o materialismo versos o espiritualismo. Imagens que atravessaram o tempo e contaram de geração a geração uma história super humana, talvez a maior das histórias. As tentações de Santo Antão não foram diferentes das de Cristo ou mesmo das de Buda antes de alcançar o despertar. E por vezes não é diferente das tentações que enfrentamos diariamente. Em dia de Sol em Capricórnio e Lua em Leão celebramos o exemplo da vitória que vem do tanto esforço e da dedicação. Na idade média, no renascença ou nos tempos atuais as tentações só mudam de nome e forma, mas nossas lutas contra certos demônios continuam as mesmas. É por isso que histórias como essa sempre nos tocarão intimamente. Que Santo Antão nos inspire e nos proteja de todo o mal.
Aline Maccari
* Fonte: Artigo: As tentações de Santo Antão de Alberto Sartorelli
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