segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um ócio ativo

O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Parte 1. Cap. 2 Impermanência. 2.3 Um Ócio Ativo.
Há diferentes tipos de ociosidade: a oriental e a ocidental. O estilo oriental é aquele praticado à perfeição na Índia. Consiste em ficar ao sol o dia todo, sem fazer nada, evitando todo trabalho ou atividade útil, tomando xícaras de chá, ouvindo música de filmes hindus martelando no rádio e tagarelando com amigos. A ociosidade ocidental é muito diferente. Ela consiste em abarrotar nossas vidas de atividades compulsivas, de modo que não sobre temo para o confronto com os verdadeiros problemas.
Dizemos a nós mesmos que queremos empregar o tempo nas coisas importantes da vida, mas nunca temos esse tempo. Nossa vida parece viver-nos. No fim sentimos que não temos mais escolha ou controle sobre ela. É claro que algumas vezes nos sentimos mal a esse respeito, temos pesadelos e perguntamos a nós mesmos: "O que estou fazendo com minha vida?" Mas nossos temores só duram até o café da manhã. Logo começamos tudo de novo. O termo tibetano para designar corpo é significa "algo que você deixa para trás", como bagagem. Cada vez que dizemos , isto nos lembra que somos apenas viajantes, temporariamente abrigamos nesta vida e neste corpo.



Lembre-se do exemplo de uma velha vaca,
Feliz da vida por dormir em um celeiro.
Você só precisa comer, dormir e defecar -
Isso é inevitável -
e tudo mais já não lhe diz respeito.

Patrul Rinpoche

E pensar que tudo isso brota de uma civilização que elege adorar a vida, mas de fato a priva de qualquer significado real, que fala sem parar sobre fazer as pessoas felizes, mas de fato impede seu caminho para a fonte da verdadeira felicidade. Esse samsara moderno alimenta-se de ansiedade e depressão que ele próprio fomenta, e para as quais nos treina e cuidadosamente nutre com um mecanismo de consumo que precisa manter-nos ávidos para continuar funcionando. Como dizia no século XVIII o mestre tibetano Jikmé Lingpa (na ilustração): "Hipnotizados pela mera variedade de percepções, os seres vagam infinitamente perdidos no círculo vicioso do samsara." Obcecados, então por falsas esperanças, sonhos e ambições que nos prometem a felicidade mas conduzem somente á miséria, somos como forasteiros rastejando num deserto sem fim, morrendo de sede. E tudo que esse samsara nos oferece para beber é um copo d'água salgada, com o propósito de deixar-nos ainda mais sedentos.

Resenha do Livro Tibetano do Viver e do Morrer por Aline Maccari

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