O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Parte 1. Cap. 2 Impermanência. 2.1. A Identidade Presumida.
Temos tanto medo da morte que evitamos por completo olhar para ela. De algum modo, no fundo, sabemos que é impossível evitar encará-la para sempre. Quanto mais adiamos esse encontro, quanto mais o ignoramos, maior é o medo e a insegurança que surgem para nos perseguir. Porque vivemos em tal pavor da morte? Porque nosso desejo instintivo é viver e seguir vivendo, e a morte é um selvagem fim de tudo que nos é familiar.
Sentimos que quando ela vem somos lançados em alguma coisa realmente desconhecida, ou nos tornamos algo totalmente diferente. Imaginamos que estaremos perdidos e confusos, em algum lugar terrivelmente estranho. Imaginamos que será como acordar sozinho, numa tormenta de ansiedade, num país estrangeiro, sem conhecimento da terra ou da língua, sem dinheiro, contatos, passaporte, amigos... Sem esses sustentáculos, ficamos frente a frente conosco, alguém que não conhecemos, um estranho amedrontador como o qual estivemos convivendo todo o tempo, mas com quem nunca desejamos realmente nos encontrar. Talvez a razão mais profunda de termos medo da morte é que não sabemos quem somos. Acreditamos numa identidade pessoal única e separada, mas se ousarmos examiná-la descobriremos que essa identidade depende inteiramente de uma série infindável de coisas que a sustentam: nosso nome, nossa “biografia”, nossos companheiros, família, lar, emprego, amigos, cartão de crédito... Assim, quando isso tudo nos é retirado, será que sabemos de fato quem somos?
Sentimos que quando ela vem somos lançados em alguma coisa realmente desconhecida, ou nos tornamos algo totalmente diferente. Imaginamos que estaremos perdidos e confusos, em algum lugar terrivelmente estranho. Imaginamos que será como acordar sozinho, numa tormenta de ansiedade, num país estrangeiro, sem conhecimento da terra ou da língua, sem dinheiro, contatos, passaporte, amigos... Sem esses sustentáculos, ficamos frente a frente conosco, alguém que não conhecemos, um estranho amedrontador como o qual estivemos convivendo todo o tempo, mas com quem nunca desejamos realmente nos encontrar. Talvez a razão mais profunda de termos medo da morte é que não sabemos quem somos. Acreditamos numa identidade pessoal única e separada, mas se ousarmos examiná-la descobriremos que essa identidade depende inteiramente de uma série infindável de coisas que a sustentam: nosso nome, nossa “biografia”, nossos companheiros, família, lar, emprego, amigos, cartão de crédito... Assim, quando isso tudo nos é retirado, será que sabemos de fato quem somos?
Não é por isso que sempre tentamos preencher cada instante de tempo com barulho e atividades superficiais, para nos assegurarmos de nunca ficar em silencia frente àquele estranho que há em nós mesmos? E isso aponta para algo fundamentalmente trágico em nossa maneira de viver.Vivemos sob uma identidade presumida. Quando morremos deixamos tudo para trás, especialmente este corpo que sempre tratamos com tanto cuidado, em que confiamos tão cegamente, e que com tanto empenho tentamos conservar vivo. Mas nossa mente não é mais confiável do que nosso corpo. Olhe só para a mente por alguns minutos. Você verá que ela é como uma pulga saltando sem cessar de um lado para o outro. Verá que os pensamentos surgem sem razão nenhuma, desconexos. Levados de roldão pelo caos de cada instante somos vítimas da inconstância da nossa mente. Se esse é o único estado de consciência com que temos familiaridade, então confiar em nossa mente no instante da morte é uma aposta absurda.
Resenha do Livro Tibetano do Viver e do Morrer por Aline Maccari