sexta-feira, 19 de abril de 2013

O orgulho invisível

Cenas do filme As Sessões com Helen Hunt: o orgulho das nossas vitórias na vida privada
Andando pela rua ontem presenciei a conversa entre duas mulheres. Uma cuidava da mãe idosa e outra do filho caçula. Num primeiro momento o que me impressionou foi contato visual que as duas estabeleceram uma com a outra. Em nenhum instante elas deixavam de se olhar com profundidade e atenção. Foi quando percebi que entre elas havia  uma escuta atenta e respeito. Para quem observa o comportamento humano deixar passar um evento desses seria difícil. Em tempos de muita fala e escuta desinteressada as duas acabaram por me convidar a ouvir um tanto da conversa que não era da minha conta, mas passou a ser.
A primeira falava sobre a aventura e a penosidade de cuidar da mãe com Alzheimer. Disse que a senhorinha esquecia coisas básicas como um telefonema que acabara de dar ou o nome dos netos que eram muitos. A mãe da criança dividia da mesma preocupação. Lua em Leão. E todas as vezes em que falamos desse signo falamos de como os leoninos ou pessoas com aspectos importantes em Leão são exuberantes, como conseguem ser o centro das atenções e sobre seu orgulho. Mas ontem, vi um orgulho diferente que queria partilhar. Um orgulho de superação, de honra que não tem feito Leão subir aos palcos como o "leãozinho de Veloso" (Caetano Veloso é leonino), mas ultrapassar e vencer barreiras do dia a dia que vão nos engrandecendo intimamente, sem expectadores, sem aprovação externa ou social. Há certos orgulhos que cultivamos em silêncio e solitude, e que contam pontos para nós, apenas. São outras manifestações da vitória do mesmo coração de Leão, mas com o sentido estrito de triunfo pessoal.
Dizia que o tratamento ao qual o garoto vinha sendo submetido, e ela mencionava quimioterapia, prejudicava o garoto. Ela contava que havia acabado de sair da sala de cinema com o menino e ele não se lembrava da história que tinha assistido. A preocupação de ambas era a mesma, independente da idade de seus amados: fazê-los viver o melhor da vida e se lembrarem disso. A filha da senhora aconselhava a andar com um bloco de notas para não deixar nenhum episódio passar em branco. E o garoto um tanto perdido, mas sem deixar perder esse trecho da conversa disse que carregava com ele um celular e tirava fotos o tempo todo, que tinha um álbum no Facebook e que os amigos curtiam suas fotos tentando forçá-lo a se lembrar dos melhores momentos ao lado deles. De fato é mais que comum e esperado que cuidemos dos nossos queridos. Afinal, família é família. Mas, ainda não estamos preparados para falar do sofrimento em público, principalmente num país onde a tirania da alegria nos arranca sorrisos, apesar de todas as circunstâncias, ainda que bem amarelos. Quando se vive a dificuldade, a doença, o luto, a tristeza só encontram cúmplices em quem vive ou viveu a mesma dor. Às vezes nem os nossos melhores amigos estão preparados para entender isso. E a troca de olhares e atenção entre as mulheres ontem revelou mais que interesse, mas zelo, carinho e cuidado, apesar de serem estranhas uma a outra. Quem sabe das dinâmicas do sofrer e da dor é capaz de dividir com seu semelhante uma integridade e uma dignidade raras. A doença, a fragilidade, o desemprego ou a dificuldade financeira não são fatores que invalidem ninguém. Muito pelo contrário, nossas lutas diárias deveriam ser motivo de orgulho. Afinal, isso sim é lutar pela vida. Hoje é dia de
Aline Maccari

Trailer: Mark O'Brien (John Hawkes) é um escritor que contraiu poliomielite quando criança. Devido à doença ele perdeu os movimentos do corpo, com exceção da cabeça. Diariamente ele conversa com o padre Brendan (William H. Macy) e menciona o fato de se sentir incompleto por desconhecer o sexo. Mark passa então a frequentar uma terapeuta sexual com Cheryl Cohen Greene (Helen Hunt), uma especialista em exercícios de consciência corporal.

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