A semana começa com a Lua em Câncer e falar de preguiça em plena segunda-feira seria como profanar a entidade "trabalho", esta tal tão idolatrada. Mas é fato! No entanto, respeitando o direito de fazer nada chegamos a conclusões que só a passividade da alma e a quietude da mente alcançam. A todos uma estréia semanal quieta e tranquila, que ninguém precisa estar ligado no 220 W o tempo todo. Comecemos devagar! Observando!
AM
O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Parte 1. Cap. 2 Impermanência. 2.3
Um Ócio Ativo.
Há diferentes tipos de ociosidade: a oriental e a ocidental. O estilo oriental é aquele praticado à perfeição na Índia. Consiste em ficar ao sol o dia todo, sem fazer nada, evitando todo trabalho ou atividade útil, tomando xícaras de chá, ouvindo música de filmes hindus martelando no rádio e tagarelando com amigos. A ociosidade ocidental é muito diferente. Ela consiste em abarrotar nossas vidas de atividades compulsivas, de modo que não sobre tempo para o confronto com os verdadeiros problemas. Dizemos a nós mesmos que queremos empregar o tempo nas coisas importantes da vida, mas nunca temos esse tempo. Nossa vida parece viver-nos. No fim sentimos que não temos mais escolha ou controle sobre ela. É claro que algumas vezes nos sentimos mal a esse respeito, temos pesadelos e perguntamos a nós mesmos: "O que estou fazendo com minha vida?" Mas nossos temores só duram até o café da manhã. Logo começamos tudo de novo. O termo tibetano para designar corpo é lü significa "algo que você deixa para trás", como bagagem. Cada vez que dizemos lü, isto nos lembra que somos apenas viajantes, temporariamente abrigamos nesta vida e neste corpo.
Lembre-se do exemplo de uma velha vaca,
Feliz da vida por dormir em um celeiro.
Você só precisa comer, dormir e defecar -
Isso é inevitável -
e tudo mais já não lhe diz respeito.
Patrul Rinpoche
E pensar que tudo isso brota de uma civilização que elege adorar a vida, mas de fato a priva de qualquer significado real, que fala sem parar sobre fazer as pessoas felizes, mas de fato impede seu caminho para a fonte da verdadeira felicidade. Esse samsara moderno alimenta-se de ansiedade e depressãoque ele próprio fomenta, e para as quais nos treina e cuidadosamente nutre com um mecanismo de consumo que precisa manter-nos ávidos para continuar funcionando. Como dizia no século XVIII o mestre tibetano Jikmé Lingpa (na ilustração): "Hipnotizados pela mera variedade de percepções, os seres vagam infinitamente perdidos no círculo vicioso do samsara. "Obcecados, então por falsas esperanças, sonhos e ambições que nos prometem a felicidade mas conduzem somente á miséria, somos como forasteiros rastejando num deserto sem fim, morrendo de sede. E tudo que esse samsara nos oferece para beber é um copo d'água salgada, com o propósito de deixar-nos ainda mais sedentos.
Resenha do Livro Tibetano do Viver e do Morrer por Aline Maccari