quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Felicidade, liberdade ou clarividência?

"Os felizes passam pela vida como viajantes de trem que levam toda a viagem dormindo; só gozam o trajeto de fato os que se mantém bem despertos para entender algo fundamental: a realidade." O trecho é uma reflexão do português Agostinho da Silva. Se vivo estivesse o poeta faria anos hoje. Como poucos ele refletiu sobre alegria, felicidade e liberdade. Em véspera de Lua Cheia em Leão em mês aquariano a reflexão não poderia ser outra. O dia nos prepara para emoções que estão prestes a nos despertar.

O dia leva o tom de uma preparação. É como se algo importante estivesse prestes a acontecer. Hoje, Mercúrio retrógrado sai de Peixes, volta para Aquário, e por lá fica até o dia 17 de março. Imediatamente o Sol ganha a força de uma conjunção profícua com Mercúrio, o deus da palavra, do raciocínio, das viagens e dos negócios acionando mecanismos que movimentam a vida que parecia estagnada. Com o fim da quadratura entre Sol e Saturno os caminhos também ficam mais visíveis e desimpedidos.

Especialmente amanhã, dia 14 de fevereiro, a Lua Cheia em Leão forma natural oposição ao Sol em Aquário à partir das 19:42 até a meia noite de sábado. No céu o eixo Aquário - Leão traz algumas reflexões importantes sobre a minha própria expressão criativa, meus desejos e mandos em oposição ao desejo de um grupo, do coletivo, da maioria que pode ser tão mais importante que um único querer. De um lado estará o artista e do outro a platéia; as vozes a serem ouvidas e os que precisam escutar. Em tempo de grandes manifestações em massa, da Ucrânia ao Brasil, um dia de Lua Cheia entre Leão e Aquário não é algo que se despreze. Nesse impasse também poderá haver frieza, tirania, mas também generosidade e lealdade, além de tristeza e alegria. No fundo, a única coisa que se pode desejar de alguém, do fundo do coração, é que se cumpra sua missão: que encontre o caminho do meio. Faria anos hoje Agostinho da Silva, filósofo e poeta português que escreveu como poucos sobre um dos temas favoritos desse mês: a liberdade. Escolher uma de suas reflexões para ilustrar o ritual de preparação do dia de hoje não foi fácil. Por isso optei por dois textos. Quem tiver tranquilidade interior poderá se beneficiar com suas ponderações.
Aline Maccari
Agostinho da Silva, poeta e filósofo lisboeta passeando pelas ruas da cidade. Se vivo estivesse faria aniversário hoje. Toda poesia aquariana fala de Prometeu.

O Nosso Desejo de Liberdade não é Sincero


Se estamos todos muito bem preparados para reclamar liberdade para nós próprios, menos dispostos parecemos para reclamar sobretudo liberdade para os outros ou para lhes conceder a liberdade que está em nosso próprio poder; se conhecêssemos melhor a máquina do mundo, talvez descobríssemos que muita tirania se estabelece fora de nós como se fosse a projecção ou como sendo realmente a projecção das linhas autocráticas que temos dentro de nós; primeiro oprimimos, depois nos oprimem; no fundo, quase sempre nos queixamos dos ditadores que nós mesmos somos para os outros; e até para nós próprios, reprimindo todas as tendências que nos parecem pouco sociais ou pouco lucrativas, desejando muito que os outros nos vejam como simples, bem ajustados, facilmente etiquetáveis.
Agostinho da Silva


Felicidade e Alegria


Não creio que se possa definir o homem como um animal cuja característica ou cujo último fim seja o de viver feliz, embora considere que nele seja essencial o viver alegre. O que é próprio do homem na sua forma mais alta é superar o conceito de felicidade, tornar-se como que indiferente a ser ou não ser feliz e ver até o que pode vir do obstáculo exactamente como melhor meio para que possa desferir voo. Creio que a mais perfeita das combinações seria a do homem que, visto por todos, inclusive por si próprio, como infeliz, conseguisse fazer de sua infelicidade um motivo daquela alegria que se não quebra, daquela alegria serena que o leva a interessar-se por tudo quanto existe, a amar todos os homens apesar do que possa combater, e é mais difícil amar no combate que na paz, e sobretudo conservar perante o que vem de Deus a atitude de obediência ou melhor, de disponibilidade, de quem finalmente entendeu as estruturas da vida.
Os felizes passam na vida como viajantes de trem que levassem toda a viagem dormindo; só gozam o trajecto os que se mantêm bem despertos para entender as duas coisas fundamentais do mundo: a implacabilidade, a cegueira, a inflexibilidade das leis mecânicas, que são bem as representantes do Fado, e cuja grandeza verdadeira só se pode sentir bem no desastre; é quando a catástrofe chega que a fatalidade se mede em tudo o que tem de divino, e foi pena que não fosse esta a lição essencial que tivéssemos tirado da tragédia grega; como pena foi que só tivéssemos olhado o fatalismo dos árabes pelo seu lado superficial. 

Por outra parte, é igualmente na desgraça que se mede a outra grande força do mundo, a da liberdade do espírito, que permite julgar o valor moral no desastre e permite superar, pelo seu aproveitamento, o toque do fatal; não creio que Prometeu estivesse alguma vez verdadeiramente encadeado: talvez o estivesse antes ou depois da prisão; mas era realmente um espírito de liberdade e um portador de liberdade o que, agrilhoado a montanha, se sentiu mais livre ainda; porque podia consentir ou não no desastre, superá-lo ou não, ser alegre ou não. E este ser alegre não significa de modo algum a alegria daquele tipo americano de «Quebre uma perna e ria»; acho que eram muito mais alegres as pragas dos velhos soldados de Napoleão. No fundo é o seguinte: é necessário, ajudando a realizar o homem no que tem de melhor, que a mesma energia que se revelou pela física no mundo da extensão, se revele pelo espírito no mundo do pensamento e domine a primeira vaga de energia, como onda rolando sobre onda mais alto vai. E mais ainda: que pelo momento de infelicidade, o que não poderá nunca suceder no caso da felicidade, entenda o homem como as duas espécies ou os dois aspectos de energia se reúnem em Deus. Só por costume social deveremos desejar a alguém que seja feliz; às vezes por aquela piedade da fraqueza que leva a tomar crianças ao colo; só se deve desejar a alguém que se cumpra: e o cumprir-se inclui a desgraça e a sua superação. 
 Agostinho da Silva


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