terça-feira, 22 de dezembro de 2015

2016: anti-heróis, seriados e sombras

Walter White, personagem da série Breaking Bad e Frank Underwood, de House of Cards. Dois personagens que nos levarão a compreender o significado da sombra para a psicologia de Carl Jung com um empurrãozinho de Plutão em Capricórnio, estimulado pela terrível quadratura com Urano em Áries. Arquétipos que já são reconhecidos pelo grande público por que tem povoado nossos dias na vida real. Uma característica dos tempos atuais que irão se repetir em 2016.
O que os personagens Walter White da série Breaking Bad e Frank Underwood, de House of Cards têm em comum conosco, além de terem em comum entre si? Que ambos são famosos por serem anti heróis nós já sabemos. Eles não são vilões, afinal nos identificamos com suas canalhices. A questão é que as séries não fariam tanto sucesso se não ressoassem fortemente dentro de nós, no público, como um espelho social e psicológico do momento que estamos atravessando. Estamos vivendo um tempo anti heroico. Mas o que os astros, além das estrelas hollywoodianas, têm a ver com isso? A astrologia poderia dizer que boa parte da culpa disso tudo é de Plutão.
Anti-herói é o personagem que nos atrai por sua total falta de altruísmo. A vaidade, o egoísmo e a vingança são traços nossos que identificamos neles. A empatia com os traços pra lá de humanos de suas personalidades é que nos faz adorá-los. O vilão estaria totalmente possuído pela sombra, diferentemente do anti-herói que beira um equilíbrio ainda possível.
O planeta, conhecido na mitologia grega por Hades, o deus dos infernos, das trevas, do submundo, entrou no signo de Capricórnio em janeiro de 2008, exatamente a mesma data de estreia de Breaking Bad, transformando tudo o que via pela frente. Em Capricórnio, estamos falando do terceiro signo de terra, aquele que rege as estruturas sociais, o poder, a sociedade, as regras, as leis, a ordem, o trabalho, o dinheiro, a ascensão, o sucesso na vida profissional, a imagem social. No entanto, em se tratando da psicologia de Carl Jung somada à astrologia, falar de Plutão, enquanto arquétipo, é também falar de sombra. E o que seria isso em termos psicológicos? 
Walter White é o professor de química de uma pacata cidade no Novo México. Um dia, com uma notícia reveladora, resolve viver a vida que não vivera até então. A série Breaking Bad estreou em janeiro de 2008, exatamente na mesma data em que Plutão entrou no signo de Capricórnio.

A sombra, dentro desta perspectiva, é tudo aquilo que rejeitamos, escondemos ou ocultamos dos outros por que em algum momento, durante nossa fase de crescimento e amadurecimento tal faceta da nossa personalidade se tornou algo desconfortável, inconveniente, motivo de algum tipo de censura por parte da família, da escola, dos amigos ou da sociedade como um todo. De forma que geralmente sentimentos como raiva, inveja, ambição, preferencias sexuais, políticas e até mesmo religiosas, fobias, fraquezas e compulsões ficam ocultas em nós às vezes. Até que um dia a vida nos encosta na parede de tal forma que se torna impossível continuar escondendo algo que é tão latente. A sombra, segundo Jung, não é algo necessariamente negativo. Dentro dos nossos porões não há só perversidade, atitudes moralmente condenáveis. Há também nosso mais preciso tesouro, partes do nosso verdadeiro eu, nossa criatividade e essência legítima. O que Jung aborda é que esta parte oprimida do ser é parte integrante e real de um sujeito inteiro, como se fôssemos feitos tanto de luz, quanto de sombra, como na imagem do Yin Yang tão conhecida pelos taoistas, representação máxima da dualidade. O ideal, dentro desta perspectiva é que conseguíssemos dialogar com ambas as partes da nossa psique. E se isso não acontecer naturalmente, com esforço pessoal ou por obra de boa terapia, algum dia o nosso inconsciente pode enviar um sinal para que essa balança desigual entre nos eixos. Se soubermos ouvir a nós mesmos e investirmos de alguma forma no domínio do próprio auto conhecimento esta sombra poderá se integrar positivamente em nós, de forma que isso não se torne um grande problema futuramente. No entanto, e mais comumente, essa característica irrompe em nossas personalidades de forma brutal, podendo ser vista desde uma discussão imprevisível no ambiente de trabalho onde mandamos tudo às favas, até um episódio realmente condenável, como por exemplo um ato criminoso, na pior da hipóteses. 
Na sombra do sujeito escondem-se seus traumas, vergonhas, medos, mas também criatividade e vontade de viver. O contato com a sombra não precisa necessariamente ser algo negativo. Muito pelo contrário. Se ela não se der por bem, muito provavelmente poderemos ser surpreendidos com o destino que nos colocará de qualquer forma frente a frente com nossa outra metade.

Em Breking Bad é clássica a construção do personagem. Walter White tem a vida de um bom pai de família, pagador de contas, pacato professor de química, de personalidade afável, frustrado, homem cheio de auto censura, reprimido em seus instintos mais selvagens. Até que com a descoberta de um diagnóstico de câncer o inconsciente lhe envia um sinal de que se a sombra não se manifestar ele morrerá envenenado por si mesmo. Daí em diante ele torna-se o maior "cozinheiro" de meta anfetamina do Novo México, nos Estados Unidos. Sua desculpa inicial é a de que como professor de química ele seria incapaz de pagar as próprias contas médicas, no entanto, como traficante de drogas ele não só arcaria com suas despesas financeiras como deixaria sua família em boa situação econômica, caso viesse a falecer. No desenrolar da trama ele vai mostrando que a sombra que o acompanha deseja mais e mais. Ela ganha vida própria e para além da manutenção das contas da família ele acumula uma fortuna invejável, independentemente de quem quer que venha impedi-lo. Sem perceber o monstro em que se tornou ou tendo apenas algumas pistas desta "fera" fora de controle, White mata meio mundo de outros personagens na série, pratica atrocidades e vai seduzindo o expectador que se vê na mesma condição deste homem abrindo-se para ser a sombra de sua personalidade que foi abafada a vida inteira.
O plutoniano Walter White é acompanhado durante toda a trama pelo mercuriano Jesse Pinkman, o menino mensageiro, psicopompo que transita entre o céu e o inferno.  A quadratura entre Plutão em Capricórnio (sociedade, regras, vida pública) e Urano em Áries (eu, ego, o sujeito) nos lembra que é tempo de mudança. "Quem sou eu nessa sociedade" é uma pergunta feita tanto por White quanto pelos recém recrutados do Estado Islâmico, os moradores da Crimeia, na Ucrânia ou de Mariana, em Minas Gerais.
A entrada de Plutão em Capricórnio em 2008 traz a tona toda a questão da sombra social como sabemos. Em vários outros textos aqui em A Astróloga falamos sobre como isso, em nível mundial, se apresenta como quebradeira econômica, desmantelamento dos estados, caos social. Situações muito claras que estamos acompanhando desde aquele ano, somadas a uma quadratura intensa com Urano em Áries, desde 2011, quando a situação se agravou e muito. A questão é que este posicionamento afeta por fora, mas também por dentro de nosso íntimo. A astrologia explica isso, o que acontece em cima é como o que acontece em baixo: assim na terra como no céu. E o desejo que irrompe é o de deixar vir à tona quem verdadeiramente somos, com luz e sombra, como somos de verdade. Nesse "morrer e renascer", tão típico de Plutão, estamos como em poucas oportunidades em contato com um lado verdadeiramente sombrio da nossa personalidade. 
Durante as fases de exaltação da sombra coletiva permitimos ser representados por figuras públicas também sombrias. Ou será que a culpa é inteiramente dos políticos? Afinal, quem os elegeu? A psicopatia, a total falta de limites e a certeza da impunidade, é um traço de uma possessão inconsciente da sombra. Tarefa nossa ter consciência dos nossos processos e do que deixamos que aconteça com o nosso país.
Os temas linchamento, estupro, uso abusivo de drogas, abuso de poder, traição, corrupção estão entre nós como poucas vezes vimos antes. É como se o mundo estivesse mais que nunca podre, corrompido, com um negro futuro pela frente. Quantas vezes já não ouvimos falar entre os amigos que "o mundo anda mal". O curioso é que é sempre fácil apontar os culpados. A culpa é do Estado Islâmico, dos russos, do Boko Haram, do Cunha ou da Dilma, do PT, mas nunca é nossa. Ora, se o que está fora de nós é uma representação do que está dentro de nós, estamos num momento muitíssimo precioso, ideal de vasculhar nossos porões e perceber em nós o que anda reprimido ou indevidamente exaltado. Não estou fazendo apologia à violência desmedida. Estou dizendo que estamos vivendo uma fase sombria, mas sem percebermos o desdobramento de nossas ações. Estamos inconscientes do que se passa. Estamos tão preocupados com nossa própria sobrevivência e tão libertos pelas portas abertas por Plutão que corremos um sério risco, o de sermos possuídos pela sombra, tal qual aconteceu com Walter White. 
Ter consciência do aspecto sombrio no sujeito, na cultura ou nas instituições é o primeiro passo para se fazer justiça quanto à natureza dual da vida. Somos feitos de luz e sombra. E enquanto negarmos isso estaremos cometendo erros. O Papa Francisco corajosamente tem conseguido perceber isso e trabalhar a sombra não apenas da Igreja, mas em todos nós. Eis uma figura que consegue enxergar além das brumas obscuras de Plutão e projetar um futuro melhor, mais honesto.
A possessão sombria é um dos temas de 2015 e que se repetirá em 2016. Pois Plutão continuará em Capricórnio até 2024, mas a grande quadratura se arrastará, com idas e vindas até meados de 2017. Assim, o chamado é para que tenhamos mais consciência de nós mesmos e do mundo como jamais tivemos. Pois a liberação da sombra, sem consciência psíquica, é como ver o mal tomando conta, sem que a luz que existe dentro de nós consiga reagir. São tempos sombrios sim, conosco, com nossos amores, parentes, amigos, cidades, lideranças políticas e mundiais. O "lado negro da força" quando se revela é extremamente atraente e nos traz uma enorme sensação de poder. Eis a grande armadilha de Plutão, tempo sensível onde os anti heróis poderão se transformar definitivamente em vilões.

Veja cenas de um tributo ao personagem Walter White da série Breaking Bad
O grande exercício para entendermos 2015 e entrarmos em 2016 será percebermos onde está a nossa sombra, antes de apontar o dedo para o outro e torná-lo nosso bode expiatório. A perversidade do mundo não está menos dentro de nós que lá fora. A França é a sombra do ISIS. O ISIS é a sombra da França. Nesse exercício de perceber a verdade integral das coisas será tentador negarmos nossa sombra. O problema é que quanto mais negada ela for, maior ela se tornará. E a grande quadratura está aí justamente para nos acertamos com ela. É tempo de olhar a sombra de frente. É tempo de ter coragem de fazer lambança, sentir fortes odores e descer as escadas para ver o que há lá embaixo. Só não podemos correr o risco de ser engolidos pelas trevas. Diferentemente de White, devemos nos manter acordados, vigilantes, perceptivos e honestos conosco. Afinal, o que há de pior dentro de nós? É com isso que nós nos veremos ainda em 2016.

Aline Maccari
Jornalista, astróloga e analista junguiana

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