terça-feira, 11 de abril de 2023

Dalai Lama: reflexões sobre o episódio

Diário da Astróloga: 11/Abr/23 | Quem me conhece um pouco mais sabe que tenho grande interesse por religiões comparadas. E que o budismo tibetano foi muito importante na minha vida por um longo período. Entre tantas coisas incríveis que aprendi, uma delas foi uma experiência inesquecível e necessária, a de "cair do cavalo". Foram algumas pequenas decepções contornáveis ao longo dos anos. Mas, nada como o tombo que tomei com uma figura que era um líder espiritual. O que hoje interpreto como uma experiência extremamente necessária para o meu amadurecimento. Fato é que a minha busca frenética por sentido na vida me fez ir tão fundo neste assunto que o meu trabalho de conclusão na minha formação como analista junguiana foi "A sombra na contemporaneidade na relação mestre-discípulo." 

▪️ CARL JUNG

Carl Jung estudou longamente as religiões do ocidente e do oriente e nos explicou que uma das maiores diferenças em se tratando da nossa postura é que no ocidente nós somos um e Deus é outro. E que no oriente, nós e Deus somos um só. Ou seja, um dos maiores enganos na nossa assimilação de filosofias espiritualistas do oriente é acharmos que estamos diante de uma figura divina. Mas, os mestres orientais podem não estar preparados para essa dinâmica. 

Mas, segundo Jung, e de maneira muuuuuito simplificada, mestre e discípulo desenvolvem mutuamente em sua relação, um elo de luz e sombra. De modo que o discípulo, fascinado pelo poder do mestre, abdica de seu poder pessoal. E o mestre, investido de todo o poder que lhe é dado e alimentado com toda a expectativa da comunidade, pode cair na tentação sombria de se achar Deus na Terra. 

Trocando em miúdos, a pior coisa que podemos fazer é delegarmos o nosso poder pessoal e espiritual a quem quer que seja. Inclusive porque o mestre é um ser humano como outro qualquer. Aliás, segundo Jung, justamente quem tem mais luz, tem mais sombra. Pois um é proporcional ao outro. A única questão é que quem se investe de trabalho espiritual, trabalha sua sombra durante a vida, se conhece e a integra, sem deixar que ela tome conta. Alguns não conseguem, como foi o caso de João de Deus, no Brasil, e inúmeros sacerdotes pelo mundo. Outros sim, e podem se tornar pessoas de grande valor para a sociedade. 

▪️ DALAI LAMA

O caso do Dalai Lama, Tenzin Gyatso, no dia de ontem reascendeu o meu desejo de falar sobre o assunto. Até porque eu recebi dezenas de mensagens me pedindo para comentar a respeito. Bem... todos sabemos pouco sobre o caso. É importante que se diga isso. Alguns fatos ainda devem ser apurados e nós não deveríamos julgar de imediato sem saber exatamente o quê aconteceu. Muito menos pôr a perder toda uma vida, oito décadas, de trabalho espiritual.

Segundo os jornais, ao que parece o mestre mostrou a sua língua a um menino e lhe pediu que a chupasse. E em seguida foi dar um beijo na boca da criança. Segundo alguns comentários na rede, de gente que se diz entendida da cultura tibetana, o ato de mostrar a língua é algo comum na cultura. Mas, confesso que vivi no budismo tibetano por um bom tempo e nunca vi nada parecido como prática cotidiana. Outros disseram que o Lama usou uma palavra equivocada em inglês. Bem... uma autoridade religiosa mundial como ele tem obrigação de não se equivocar com certas palavras noutro idioma. Ele tem um séquito de assessores para orientá-lo a cada passo que dá e um engano linguístico em negociações de paz, por exemplo, poderia ser o começo de uma guerra.

O que parece ter acontecido é que o senhor, já com 87 anos de idade, deixou vazar sua sombra, na desatenção e cansaço de sua senilidade. Um dos grandes problemas nas organizações religiosas é o celibato, que de maneira muitíssimo equivocada separou os desejos da alma e do corpo, como se um fosse inferior ao outro e como se o sexo não fosse sagrado. E isso é uma máquina de multiplicação sombria, basta ver os casos de importunação e abuso sexual na Igreja Católica. 

Mas, se engana quem pensa que o Budismo está blindado deste tipo de experiência. Alguns dos jovens lamas de hoje que poderão vir a ser o próximo Dalai Lama, foram reconhecidamente vítimas de abuso dentro dos monastérios. 

Além da formatação equivocada das instituições, das expectativas irreais dos discípulos, existe por trás disso tudo um homem de carne e osso, senil, com uma sexualidade reprimida e desejo legítimo de afeto, diante de suas próprias questões pessoais à essa altura da vida. E o que acho que aconteceu ontem foi uma das facetas do mestre, mostrando o quanto ele pode ser tão humano ou desumano quanto qualquer um de nós.

Dalai Lama está errado? Até onde sabemos me parece que sim! Mas o mestre também é fruto de uma série de equívocos por toda a vida. Sem nos esquecermos de lembrar que foi ele quem fugiu ainda adolescente do Tibet, durante a tenebrosa invasão chinesa após a 2ª Guerra Mundial. Os chineses tentaram acabar com a cultura e a religião do Tibet das formas mais violentas possíveis. Quem quiser saber mais sobre o extermínio do Tibet e do budismo tibetano, sugiro a leitura do livro "As montanhas de Buda". Eis a fonte de um dos maiores traumas da história. Ou seja, Tenzin Gyatso é também uma figura altamente complexa, fruto de todas essas experiências sombrias do seu tempo e cultura. 

Isso tudo o exime do ocorrido? NÃO! Mas, acho fundamental sabermos um pouco mais sobre quem é a pessoa execrada do momento. E os discípulos que projetam neste e noutros homens de carne e osso uma santidade que não existe por si. 

▪️ MESTRE-DISCÍPULO 

O que fica pra mim, disso tudo, é a lembrança, novamente, de que cada um deve cuidar do seu próprio caminho espiritual, sem terceirizar suas funções a ninguém e sem endeusar mestres e líderes. Um grande mestre não quer e não precisa de seguidores. Porque sabe que a relação de projeção das expectativas dos outros é péssima para todos. Como eu gosto de dizer, "quem tem mais consciência, tem mais responsabilidade". Alimentar este tipo de conduta é produzir monstros.

De minha parte, penso o quanto as religiões podem ser frustrantes, em vários momentos. Mas jamais seus ensinamentos que atravessam o tempo com verdade. O problema não está em Cristo, mas em muitos cristãos. O problema não está em Buda, mas em muitos budistas. Tão culpados quanto os ditos "mestres" é o fã clube!
SATURNO EM PEIXES


Aline Maccari Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana O link segue na BIO☝ e nos STORIES ☝ YOUTUBE👉 www.youtube.com/aastrologa





Diário da Astróloga: 11/Abril/23 No vídeo de hoje eu trago algumas reflexões possíveis pra gente pensar juntos o episódio do Dalai Lama com o menino. E a relação mestre-discípulo é uma das maneiras da gente olhar tudo isso. Aline Maccari Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana O link segue na BIO☝ e nos STORIES ☝

CRÉDITOS / CREDITS: Dalai Lama TENZIN GYATSO no episódio de 10/Abril/23
DIREITOS AUTORAIS: Agradecemos o compartilhamento dos conteúdos da "A Astróloga", desde que sejam preservadas a sua originalidade, integridade e sentido, sem prejuízo à compreensão do mesmo e mantido o crédito à autora: Aline Maccari @aastrologa. A publicação parcial ou total de textos ou vídeos sem a creditagem correspondente pode acarretar em crime de plágio, sendo passível de punição. Obrigado àqueles que ajudam a divulgar adequadamente este trabalho.

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