segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A importância dos repertórios simbólicos

"Uma ordem mitológica é um conjunto de imagens que dá à consciência um significado na existência, que, não tem significado algum, simplesmente existe. Mas a mente sai em busca de significados; ela só consegue funcionar se conhecer (ou inventar) um conjunto de regras. Sua primeira função é incutir em nós um sentido de deslumbramento grato e afirmativo diante do estupendo mistério que é a existência.

A questão da verdade não importa muito aqui. Nietzsche afirma que o pior que se pode dizer a uma pessoa de fé é a verdade. Uma imagem cosmológica proporciona ao indivíduo um campo para jogar, ajudando-o a reconciliar sua vida, sua existência, com a própria consciência, ou expectativa, de significado. É isso que uma mitologia ou religião tem a oferecer. Quando Apollo 10 voou ao redor da Lua os astronautas conversavam entre si sobre como a lua era árida e desolada. Para comemorar a data festiva, afinal era Natal, começaram a ler o primeiro capítulo do Livro do Gênesis. O texto bíblico falava da separação entre as águas que estão acima do firmamento e as águas que estão abaixo do firmamento, no momento exato e que eles acabavam de apontar quão árida a lua parecia. A enorme lacuna entre a tradição religiosa e a situação física concreta mexeu muito comigo naquela noite."
Esse trecho faz parte da obra de Joseph Campbell, presente no livro Mito e Transformação, sobre a necessidade dos ritos. Para o pesquisador, o mito tem entre outras funções ajudar o indivíduo a atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois da senilidade  à morte. O que Campbell quer dizer é que às vezes as histórias sobre os fatos são mais importantes que os fatos em si. Permanecer por um longo período sem compreender fenômenos como amores, desastres, doenças ou mortes provoca uma lacuna gigantesca no sujeito. Quem tem em si um reportório simbólico capaz de dar conta dessas explicações sente-se mais confortado e apaziguado com os humores da vida e do mundo. É grande a diferença entre uma família que perde um filho e encontra consolo na aparelhagem simbólica dos textos e imagens religiosas. Diferentemente de uma família que pode ficar desolada tendo em mãos apenas explicações médicas e um atestado de óbito. Um repertório simbólico, religioso ou não, traz para o sujeito uma vida muito mais rica, com orientação, sentido, significado e portanto paz interior. A mitologia, as artes, as religiões, os esportes e as psicologias são algumas áreas que ajudam o sujeito a desenvolver seus conteúdos de símbolos e significados, coletivos ou individuais. As psicologias não são tão numerosas quanto as religiões, mas explicam e promovem organização mental e espiritual de formas tão diversas quanto diversos são os tipos humanos. Nenhuma delas é mais importante que a outra, e se vistas sob um prisma mais amplo são capazes de completar umas às outras, da mesma forma que as religiões. Em qualquer das áreas o sujeito não estaria de fato em busca da tão rara verdade suprema, mas de uma história que sacia seus anseios mais íntimos, inconscientes e traz sentido a sua existência.
Aline Maccari
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