◼️ ETIMOLOGIA
No Dicionário Mítico Etimológico de Junito de Souza Brandão, EROS é o desejo incoercível dos sentidos, é o comprazer-se, o deleitar-se. Personificado, Eros é o mais belo entre os deuses imortais, segundo Hesíodo. Dilacera os membros, transtorna o juízo dos deuses e dos homens. De natureza mutável, seu mito variou muito com a história, da era arcaica até a era romana. E por isso sua narrativa tem versões que mudam com o transcorrer do tempo; ora filho do Caos, ora filho de Marte e Vênus.
◼️ FILHO DO CAOS
Na Teogonia, Eros nasce como filho do Caos, sendo irmão de Geia, Tártaro, Gaia e Urano. Ou seja, o amor/paixão é um deus primordial, relativo aos primórdios, às origens do planeta e da vida. E para entender sua potência acho importante compreendermos sua filiação. O Caos, seu "pai" ou origem é a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando a ordem ainda não havia sido imposta aos elementos do mundo, segundo Ovídio. Por isso, o caos é uma massa informe e confusa. Entretanto, o Caos é uma energia poderosa que sempre existiu e sempre existirá, envolvendo uma imensa e inexaurível reserva de energia, nas quais se dissolverão as formas nos fins dos tempos. Sabendo agora quem é o pai de Eros, fica mais fácil entender sua vocação como força descontrolada, basal, presente desde de o primeiro ao último dia de nossas vidas.
◼️ PARA PLATÃO
Em alguns trechos de "O Banquete", Platão fala sobre Eros como filho de Afrodite (Vênus) e Ares (Marte). Segundo o filósofo, Eros é sempre pobre, de maneira alguma delicado e belo como geralmente se crê, mas sujo, descalço e sem morada. Deita-se ao relento, dorme ao ar livre sob as estrelas, nos caminhos e juntos às portas. Eros está sempre à espreita de belos corpos e de almas astutas. Gosta de invenções e é cheio de artimanhas para consegui-las. Eros é um caçador temível, sempre armando intrigas. É filósofo o tempo todo, encantador poderoso e argumentador. Sua natureza não é nem mortal nem imortal, no mesmo dia floresce bem e vivo. No dia seguinte, morre, mas depois retorna à vida. Entretanto, tudo o que consegue pouco a pouco sempre lhe foge das mãos. Em suma, Eros nunca é totalmente pobre nem totalmente rico. Imaginando Eros como sinônimo de PAIXÃO, fica ainda mais fácil compreender as palavras de Platão.
Ex: mulher-detento(YouTube)
◼️ PARA A PSICOLOGIA E A FILOSOFIA
Para algumas linhas da filosofia e da psicologia, o termo ERÓTICO é relativo a Eros, como um equivalente à "energia de vida". E em muitos casos, está estritamente ligado à sexualidade. Entretanto, para além dela, a "paixão" também pode estar em tudo o que fazemos com grande empolgação. Por isso, tudo aquilo em que colocamos o nosso "tesão" ou o nosso EROS, deve florescer. Eros, portanto, está na força libidinal que aplicamos nas coisas que nos dão prazer, como escrever um livro, tocar um instrumento ou fazer exercícios.
Mas, mais comumente, Eros é a força que une os corpos e as almas. E os casais que já não vivem mais a potência do Eros em suas relações, deveriam repensar sobre assunto. Pois o Eros nunca acaba, ele é apenas deslocado para outras ações, corpos ou almas. Como o Eros é volúvel, mutável e está sempre em movimento, é importante alimentar a dinâmica erótica para que se mantenha viva a chama da paixão. Sendo filho do amor e do conflito, Vênus e Marte, será a dinâmica entre momentos de "paz" e de "guerra" que o alimenta? Alguns casais apaixonados diriam que sim!
Ex: a força da impossibilidade (YouTube)
◼️ ENFIM...
Eros é uma força que nos acompanhará durante toda a vida. Seja nós conosco, nas coisas que fazemos com grande empolgação ou na relação com os nossos objetos de desejo, em homens e mulheres que nos tiram o chão. Volúvel, transformador, avassalador, com ele num dia temos tudo, noutro dia parece que temos nada. Mas esta é apenas uma sensação, pois a PAIXÃO em nós e à partir de nós, no fundo nunca acaba.
* A arte que ilustra o texto de hoje chama-se "A jovem garota defendendo-se contra Eros" do pintor francês neoclássico William-Adolphe Bouguereau (1825 - 1905). O que sugere uma moça tentando se esquivar das próprias paixões e tentações. Enfim... em vão!
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Aline Maccari
Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana
Diário da Astróloga: 09/Ago/23
O que a mitologia tem a nos ensinar sobre a PAIXÃO? No vídeo de hoje eu falo sobre as origens do mito de Eros que pode nos dar algumas pistas sobre como funciona ou pelo menos como deveria funcionar esta força.
Aline Maccari
Jornalista, Astróloga e Analista Junguiana
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• CRÉDITOS / CREDITS: A arte que ilustra o texto de hoje chama-se "A jovem garota defendendo-se contra Eros" do pintor francês neoclássico William-Adolphe Bouguereau (1825 - 1905). O que sugere uma moça tentando se esquivar das próprias paixões e tentações. Enfim... em vão!
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