segunda-feira, 4 de abril de 2016

Arquétipos x Estereótipos

Estereótipo: reduzir para compreender.  Ela tinha QI superior ao de Albert Einstein. Você esperava por essa? Podemos enxergá-la de forma estereotipada e veremos uma diva do cinema.
Arquétipo: ampliar para compreender. Podemos conhecer "O nascimento da Vênus" de Botticelli e fazer nossas analogias: concha X vestido, o sopro divino de Zéfiro X o ar que sopra o vestido de Marilyn, a Vênus que se veste X a Vênus que se despe. Ambas sempre foram e sempre serão a mesma representação do belo feminino.
Duas palavras e dois universos. Falar em arquétipo se tornou moda, uma máxima na astrologia, na mitologia e nos estudos de psicologia analítica de C. G. Jung. Mas, qual o significado da palavra? Arquétipo vem do latim archetypum ou arkhétupos, arque (antigo), tipos (modelo), ou seja arquétipo seria um modelo antigo, um tipo antigo, primitivo. Para  Platão as ideias são arquétipos das coisas. É como se arquétipo fosse o modelo que representasse algo maior, de forma atemporal.
A percepção de um arquétipo é simbólica, ampla, irrestrita. Quando falamos do arquétipo do herói estamos falando de um tipo que não tem tempo, lugar ou cultura, por que o herói existe desde os tempos sem princípio, dentro de toda e qualquer cultura. No entanto, cheio de características, especificidades, porém com um tronco narrativo comum, como por exemplo a caminho de um castelo, em busca de uma princesa ou travando um duelo com o dragão. O mitólogo Joseph Campbell mostra a estrutura do mito do herói, através das culturas, sob a ótica do que ele chama de monomito, uma narrativa comum, mas de cores, sons, sabores, cenários e desafios muito diferentes. Compreender a noção de arquétipo amplia nossa forma de pensar e nos traz uma certa tranquilidade, por que vemos um padrão ou modelo de repetição de situações que podem parecer caóticas num primeiro momento, mas não são. A dinâmica de Marte e Vênus na astrologia é de certo modo análoga à compreensão da noção de Animus e Anima na psicologia profunda, e mais fácil ainda de entender quando lidamos cara a cara com os sexos, na relação homem-mulher.
É por isso que estudar os arquétipos, presentes como base fundante da mitologia, nos ajuda a entender uma história antiga que faz sentido até hoje, pois é o começo, o meio e o fim de todas as coisas. Os tempos passam, o mundo evolui, mas o tipo antigo atravessa os séculos e se faz presente no trato diário com as pessoas, na fila do banco, na sala de aula ou na relação conjugal. Estudar os mitos e os arquétipos é um exercício de ampliação de repertório simbólico. O que pode trazer muito mais riqueza para o nosso dia a dia, uma vez que traz muito mais sentido para as coisas que vivemos e que num primeiro momento não tem explicação. Estudar o arquétipo de Mercúrio por exemplo, conhecido como Hermes na mitologia grega, é o mesmo que estudar o Puer Aeternus, o deus antigo da eterna juventude. Quem reconhece Mercúrio no mapa astral pode reconhecê-lo na vida, na cultura e até na literatura. Ele é também o Peter Pan, o Pequeno Príncipe ou Michael Jackson. Nas relações amorosas com as mulheres eles são o homem que não arca com responsabilidades, o bebezão que não quer crescer, que deseja ser o eterno solteirão, festeiro, pronto para ser cuidado por uma mulher-mãe docemente maternal. Quem percebe a profundidade do arquétipo se torna capaz de reconhecer com quem lida e como lida no nosso cotidiano. Como não perceber, à partir disso, que estamos cercados de pessoas e situações arquetípicas constantemente?
Arquétipo x Esteriótipo: um amplia, o outro reduz

Não conhecer o poder da ampliação de consciência ofertada pelo estudo arquetípico não é crime. Há quem viva uma vida onde um carro caro, grande e potente é apenas um carrão, não uma grande armadura medieval usada numa temível batalha. No entanto, o risco que corremos é o de responder à vida segundo os estereótipos.  Estéreo significa sólido, duro, cristalizado. O estereótipo poderia ser considerado de alguma forma o contrário do arquétipo.  É um ideia, um conceito ou modelo tido como padrão para tudo o que se pense a respeito de um único tema. O estereótipo reduz e rotula realidades que podem apresentar uma tremenda riqueza, com vários significados. O estereótipo se torna padrão, preconceito, lugar comum, cliché. Uma reprodução automática de um comportamento ou situação que anula qualquer originalidade ou adaptação a uma situação presente. Ele é tudo, menos criativo. Ele engessa e copia. No entanto, é muito mais fácil enxergar o mundo e classificá-lo à partir dos estereótipos que dos arquétipos. 
Estereotipar é encontrar um homem lindo numa situação especial e não se permitir dar alguma chance a ele por que você sabe que homens lindos não olharão para você ou por que você sabe que homens belos não são necessariamente interessantes ou inteligentes. No entanto, sem dar a ele a oportunidade de se mostrar você jamais saberá quais são os arquétipos que moram dentro dele. Quem sabe esse príncipe é mesmo o seu? Além disso, beleza e inteligência não são qualidades excludentes. Um homem sem charme algum pode também ser uma anta! 
Quem vê cara não vê mitologia e não percebe nuances de profundidade. Quem estereotipa o mundo perde a oportunidade de encontrar beleza, mistério e aventura. Rotular é um exercício muito comum da psique humana. É assim que damos conta de milhares de informações recebidas num único dia. É assim que nós entendemos o mundo. O mesmo mundo que não deveria ser "entendido", mas "desvendado"! A astrologia não pensa por estereótipos. Ela não reduz para compreender. Ela é a arte de pensar arquetipicamente para ampliar conceitos, comportamentos, possibilidades e desvendar a própria vida.
Aline Maccari
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